David Carrick, de 48 anos, que trabalhava para uma unidade especial da Scotland Yard dedicada a proteger parlamentares e diplomatas estrangeiros, se declarou culpado perante a Justiça por quatro crimes de estupro, além de detenção ilegal e atentado ao pudor contra uma mulher de 40 anos em 2003.
Durante uma audiência em Londres, a juíza também suspendeu restrições impostas em dezembro, revelando que o policial já havia reconhecido sua responsabilidade em 43 acusações envolvendo outras 11 mulheres, sendo 20 por estupro, num período de 16 anos até 2020.
A promotora Jaswant Narwal descreveu o caso nesta segunda como "um dos mais chocantes com o qual já lidou envolvendo um agente policial na ativa".
Carrick receberá sua sentença a partir de 6 de fevereiro, de acordo com a juíza.
- Assassinato de Sarah Everard -
"Em nome da Polícia Metropolitana, quero pedir desculpas às mulheres que sofreram nas mãos de David Carrick", declarou a subcomissária da polícia londrina, Barbara Gray. Ela elogiou a coragem das vítimas ao decidir testemunhar sobre os abusos após a prisão do homem em outubro de 2021 por um primeiro estupro.
O agente é um "prolífico delinquente sexual em série" que "destruiu" duas vidas e minou a confiança na polícia, afirmou. "Deveríamos ter identificado seu comportamento e, como não o fizemos, perdemos oportunidades de afastá-lo" da força, acrescentou, especificando que o caso foi submetido ao órgão de controle interno da Scotland Yard para investigação.
Na audiência, soube-se que a polícia londrina teve conhecimento de várias acusações contra o agente, mas isso não levou a sanções criminais nem medidas disciplinares internas até sua prisão.
A outrora renomada Polícia Metropolitana de Londres sofreu duras críticas nos últimos anos pela conduta de seu efetivo, em especial desde o sequestro, estupro e assassinato de Sarah Everard, inglesa de 33 anos, em março de 2021 pelo agente Wayne Couzens, também da brigada de proteção diplomática.
Esse caso, que comoveu o Reino Unido em pleno confinamento pela covid-19, pôs em evidência que a hierarquia policial não havia prestado atenção nos múltiplos sinais de alarme sobre o comportamento de Couzens.
- Humilhação e submissão -
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, se declarou nesta segunda-feira "enojado e horrorizado" pelos crimes de Carrick.
De acordo com os investigadores, o agente conhecia algumas de suas vítimas por meio de aplicativos de relacionamento e eventos sociais e se aproveitava de sua posição como policial para ganhar sua confiança.
Ele admitiu ter estuprado durante meses, em alguns casos anos, uma dezena de mulheres. Prendia suas vítimas em pequeno armário sob as escadas de sua casa por horas, sem comida.
Chamava algumas delas de "escravas", a quem controlava financeiramente e isolava de seus círculos sociais.
"É inacreditável que esses crimes possam ter sido cometidos por um agente da polícia na ativa", disse o inspetor-chefe Iain Moor nas portas do tribunal, sem descartar que outras vítimas decidam agora denunciar mais agressões.
"Ele gostava de humilhá-las e se aproveitava de sua posição profissional para deixar claro para elas que era inútil buscar ajuda, porque ninguém acreditaria", acrescentou.
Um relatório publicado em novembro deixou claro as falhas na seleção e no controle dos agentes da polícia londrina, vários dos quais foram denunciados por comportamentos misóginos e sexistas.
Segundo um porta-voz do primeiro-ministro Rishi Sunak, "as forças de polícia devem erradicar estes agentes para restabelecer a confiança quebrada por casos como este".