
A defesa veemente do presidente francês ao direito de divulgação das ilustrações após a morte de um professor, decapitado em um atentado islamita em 16 de outubro por ter mostrado as imagens a seus alunos durante uma aula, provocou uma onda de protestos no mundo muçulmano.
Na Síria, as pessoas queimaram imagens de Macron e, na capital da Líbia, bandeiras francesas foram incendiadas. Os supermercados do Catar, do Kuwait e de outros países do Golfo retiraram os produtos franceses.
Em Dacca, a capital de Bangladesh, a polícia calculou que mais de 40.000 pessoas participaram da passeata organizada pelo Islami Andolan Bangladesh (IAB), um dos principais partidos islamitas do país. O protesto foi contido antes de a multidão se aproximar da embaixada francesa em Dacca.
Centenas de policiais estabeleceram barreiras com arame farpado para bloquear os manifestantes, que se dispersaram sem incidentes.
A marcha começou diante da Baitul Mukarram, a principal mesquita de Bangladesh, país que tem população majoritariamente muçulmana.
Os manifestantes gritavam "boicote aos produtos franceses" para "castigar" Macron.
"Macron é um dos poucos dirigentes que adoram Satã", declarou um dos líderes do IAB, Ataur Rahman, à multidão reunida na mesquita Baitul Mukarram.
Rahman pediu ao governo de Bangladesh para "expulsar" o embaixador francês. Outro líder islamita, Hasan Khamal, declarou que os manifestantes iriam "destruir todos os tijolos do prédio" da embaixada, se o diplomata não fosse expulso.
"A França é inimiga dos muçulmanos. Os que a representam também são nossos inimigos", disse Nesar Uddin, um jovem líder da organização.
Os manifestantes afirmaram que "Macron pagará um preço alto".
- "Campanha de linchamento" -
Em 16 de outubro, um islamita decapitou na região de Paris o professor Samuel Paty, que poucos dias antes havia mostrado a seus alunos as charges do profeta Maomé, os mesmos desenhos publicados pela revista satírica Charlie Hebdo e que desencadearam o assassinato de 12 pessoas em 2015.
O atentado contra o professor comoveu a França, que desde 2015 sofreu uma série de ataques extremistas que deixaram mais de 250 mortos.
Na homenagem nacional a Paty, Macron prometeu que a França não renunciaria às charges, nem à liberdade de expressão.
No início de outubro, após outro ataque com faca contra o Charlie Hebdo, o presidente francês já havia anunciado várias medidas para "combater o separatismo islâmico".
O mundo muçulmano não gostou das declarações de Macron e isto provocou um movimento de protestos, liderado pela Turquia.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, convocou um boicote dos produtos franceses. Ele questionou a "saúde mental" de Macron após os comentários do presidente francês.
Erdogan chegou a afirmar que "uma campanha de linchamento está sendo realizada contra os muçulmanos, semelhante à dos judeus da Europa antes da Segunda Guerra Mundial".
Os países europeus expressaram seu apoio a Macron.
Uma fonte da Comissão Europeia afirmou que o boicote aos produtos franceses proposto por Erdogan é contrário ao espírito dos acordos comerciais assinados pela Turquia e afastará ainda mais Ancara da UE.
Em outros países muçulmanos, como Paquistão e Marrocos, as declarações do presidente Macron também provocaram protestos. O movimento palestino Hamas, os talibãs no Afeganistão e o Hezbollah libanês também criticaram a França.
Teerã convocou o número dois da embaixada da França no Irã. Islamabad fez o mesmo com o embaixador da França no Paquistão.
Na Jordânia, o ministro de Assuntos Islâmicos Mohamed al-Khalayleh protestou.
O Marrocos condenou "energicamente" as caricaturas. Por sua vez, o alto conselho islâmico da Argélia criticou uma "campanha virulenta" contra o Islã.
O conselho de sábios muçulmanos, com sede em Abu Dhabi e liderado pelo grande ímã Al-Azhar, anunciou sua intenção de perseguir o Charlie Hebdo e "qualquer um que ofenda o Islã".