"O trabalho mais difícil que existe é a verificação [...] Está previsto que, a cada dois meses, se faça uma prestação de contas de como evolui em cada um dos territórios, com cada uma destas organizações", explicou o chefe da pasta, Alfonso Prada, em entrevista à Blu Radio.
Na véspera do Ano Novo, o presidente Gustavo Petro anunciou uma trégua bilateral entre o governo e cinco grupos armados entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2023, com vistas a negociações que permitam desativar o longo conflito interno.
O governo mantém em sigilo os decretos onde são detalhados os acordos de cessar-fogo com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN), os grupos dissidentes das Farc, a maior quadrilha do narcotráfico - conhecida como Clã do Golfo - e as Autodefesas de Sierra Nevada, de origem paramilitar.
Sob sua política de "paz total", Petro pretende conter a espiral de violência que se seguiu ao histórico acordo assinado com a maior parte da guerrilha das Farc, em 2016.
Sem entrar em detalhes, Prada assegurou que os diálogos serão "diferentes" com cada organização, dependendo se "operam na economia ilegal" ou "têm status político".
"Não vai ser fácil, temos isso bem claro", admitiu o porta-voz presidencial.
As Nações Unidas, a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Defensoria do Povo e a Igreja Católica apoiaram a trégua.
- Sem desmilitarização -
A decisão abrangerá cerca de 15.000 combatentes, segundo cálculos recentes do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz).
O ministro da Defesa, Iván Velásquez, assegurou que as operações da força pública contra o narcotráfico e o garimpo ilegal "continuam" e que a única coisa que se evitará é "que haja um confronto com o grupo ilegal".
"O cessar-fogo bilateral não significa uma autorização para que crimes continuem sendo cometidos", disse Velásquez à imprensa.
Desde novembro, o governo negocia em Caracas com o ELN, a última guerrilha reconhecida no país. Os insurgentes concederam uma trégua unilateral durante o Natal, que começou em 24 de dezembro e foi prorrogada com o anúncio recente.
O ministro Prada assegurou que a força pública vai manter o controle de "absolutamente todo o território" e não vai desmilitarizar regiões como foi feito em negociações de paz anteriores "para que cada uma destas organizações circule à vontade".
"Aqui não se detém a presença das forças armadas, suspendem-se os disparos de um lado e do outro. Mas as forças armadas, dizem os mesmo decretos, conservam a plenitude de suas faculdades constitucionais", acrescentou.
O governo do ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002) desmilitarizou 42 mil km² na região do Caguán (sul), durante uma negociação frustrada com as Farc, que os rebeldes aproveitaram para se fortalecer.
- Trégua entre as organizações -
Petro, um ex-guerrilheiro que assinou a paz e depôs as armas em 1990, se tornou, em 7 de agosto de 2022, o primeiro presidente de esquerda da Colômbia.
Sua política de "paz total" tem sido alvo de críticas da oposição, que a considera uma "apologia à criminalidade e à impunidade".
O governo não informou se as mesas de diálogo serão instaladas na Colômbia ou em outros países, como ocorre com o ELN, que iniciou na Venezuela uma primeira etapa de negociações, que terão continuidade no México em data a definir.
Segundo o ministro da Defesa, "estão avançando os diálogos entre as organizações armadas que têm presença em um mesmo território para que o confronto entre elas também cesse".
"É o que poderia garantir a tranquilidade para a população", que costuma ficar em meio ao fogo cruzado, acrescentou.
Os membros de organizações armadas que ficarem de fora dos acordos de cessar-fogo serão "perseguidos sem qualquer limite", informou o governo.
A Colômbia vive um conflito armado que em seis décadas já deixou 9 milhões de vítimas, a maioria deslocados.
O tráfico de drogas, combustível da violência, bate recordes históricos no país, o maior produtor de cocaína do mundo.