Policiais, caminhões da tropa de choque e um helicóptero vigiavam o coração do poder na capital nesta quarta-feira, mas nenhum manifestante foi avistado na primeira hora da convocação, marcada para as 18h00.

O grande contingente das forças de segurança foi acionado para proteger a Esplanada dos Ministérios, onde encontram-se as sedes das pastas institucionais, assim como o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF.

O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, designado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva interventor na segurança pública do Distrito Federal, informou que "barreiras de revista" e "bloqueios" foram instalados nos acessos à Esplanada dos Ministérios. Além disso, assinalou que a circulação de veículos nas avenidas adjacentes foi interrompida.

"Todo o efetivo da segurança pública mobilizado", disse Cappelli. "Não há hipótese de se repetirem na capital federal [...] os fatos inaceitáveis que aconteceram no dia 8" de janeiro, acrescentou.

Embora mais de 600 pessoas continuam detidas por participar dos "atos terroristas", segundo as autoridades, circulou nas redes sociais uma mobilização para protestos em várias capitais sob o lema: "Mega Manifestação Nacional pela Retomada do Poder".

No Rio de Janeiro, os manifestantes também não compareceram ao Posto 5 de Copacabana, vigiado por policiais municipais.

Em São Paulo, apenas dois jovens foram vistos na Avenida Paulista vestindo camisas verde e amarelo, as cores da bandeira nacional que se tornaram a marca registrada das manifestações pró-Bolsonaro.

"Eu vim defender a liberdade de expressão do povo brasileiro", disse à AFP Luis Augusto Machado, 20 anos.

Apesar de ser um crítico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Machado foi enfático ao expressar seu "repúdio" às ações de domingo que abalaram Brasília.

"Nós de uma direita mais ao centro, sem atos de vandalismo, temos que fazer uma oposição forte, mas democrática".

Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira pela empresa Atlas Intelligence mostrou que, embora a maioria dos brasileiros seja contra o ocorrido em Brasília, 18,4% dizem concordar com a manifestação violenta que impactou a capital, e 10,5% acreditam que a invasão das sedes do poder público foi "totalmente justificada".

- "Omissão e conivência" -

As autoridades investigam quem organizou e financiou os protestos, assim como os responsáveis por garantir a segurança da capital.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi afastado provisoriamente do cargo enquanto as investigações avançam, e o ministro do STF Alexandre de Moraes ordenou a prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro e recém-nomeado secretário de Segurança da capital, por suposta "omissão e conivência" com os incidentes de domingo.

Torres, que foi exonerado do cargo após os distúrbios, encontra-se de férias nos Estados Unidos, mas afirmou que voltará ao país. "Irei me apresentar à Justiça e cuidar da minha defesa", afirmou no Twitter, sem especificar a data de seu retorno.

As imagens do ataque a Brasília, que remetem à invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, por partidários do então presidente Donald Trump, mostram bolsonaristas perfurando quadros e destruindo mobiliário, quebrando vidraças e invadindo os gabinetes de ministros do STF, deputados e senadores e do Palácio do Planalto.

O prejuízo ao patrimônio nacional ainda não foi calculado.

Os edifícios, no entanto, encontravam-se vazios e Lula visitava Araraquara, município do interior de São Paulo atingido por fortes chuvas nas últimas semanas.

- "Pessoas alopradas" -

Lula, de 77 anos, que governou entre 2003 e 2010, derrotou Bolsonaro nas eleições presidenciais de outubro passado por menos de dois pontos percentuais, resultado que provocou uma divisão política no Brasil.

Desde a vitória do petista nas urnas, centenas de bolsonaristas acamparam em frente a quartéis militares pedindo intervenção militar no país, um movimento que deu origem aos atos de domingo.

"[Trata-se de] um grupo de pessoas alopradas que ainda não entenderam que a eleição acabou", assinalou nesta manhã o presidente Lula, que recebeu no Palácio do Planalto representantes do Congresso, incluindo o presidente da Câmara, Arthur Lira.

Lula agradeceu ao Congresso a rápida aprovação de seu decreto presidencial para intervir na segurança pública no DF.

"Eu até gostaria de não pensar em um golpe, gostaria de pensar em uma coisa menor", enfatizou Lula.

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